Por Clara Rossatto Bohrz
Em tempos de discursos de “neutralidade” e “apartidarismo”, é preciso
elucidar: a PEC 241/55 é carregada de ideologia. Escrevo, porque embora
travestida de alternativa à atual crise econômica, ela traz no conteúdo de seu
texto, um projeto de privatização dos serviços públicos. Aliás, a ideia de
educação pública, gratuita e de qualidade não interessa ao atual governo,
tampouco à atual gestão do DCE - que tem pregado pela defesa simplista do
“direito de ir e vir” dos estudantes, ao invés de declarar abertamente o seu
apoio à PEC, uma vez que a maioria de seus integrantes mostram-se favoráveis à
essa medida.
E por que disfarçar? Ora, pois é no mínimo contraditório - para não
dizer constrangedor - que um DCE, que deveria ter por objetivo defender os
interesses dos estudantes, se manifeste a favor de uma Emenda que diminuirá
drasticamente os investimentos em educação, saúde e assistência social.
Ademais, segundo alguns economistas como Laura Carvalho, a PEC sequer resolverá
a crise econômica, posto que os problemas transcendem a questão dos gastos, e
depende muito mais de reformas como a tributária e a política. Entretanto,
sabe-se que essas pautas não são discutidas pelos políticos que votam pela PEC
do Fim do Mundo…
Por outro lado, há movimentos sociais que se insurgem contra essas
medidas que visam atacar somente direitos - e não privilégios. Como destaque,
as polêmicas ocupações. O #Ocupa, em 2016, que começou com os secundaristas das
escolas estaduais no Paraná, inspirou estudantes de centenas de Universidades e
Institutos Federais, que hoje, se organizam dentro dos espaços públicos para
discutir e resistir aos arbítrios desse governo. Quem ocupa, acredita no acesso
democrático ao serviço público; quem ocupa, procura maneiras de sair da crise
sem sacrificar direitos fundamentais. Contudo, as ocupações foram
demonizadas, tanto é, que o atual DCE forçou a reitoria - mediante ação popular
- a ajuizar uma ação de reintegração de posse dos prédios ocupados.
Neutralidade ácida, não?
Nas ocupações, houve respeito e organização; debates e atividades
culturais; participaram delas as pessoas das mais diversas realidades sociais,
opiniões e jeitos de ser. Acima de todas as diferenças, houve luta e
resistência pela educação. E não, não foi divertido. Ocupar é cansativo e
perigoso. Mas enquanto alguns lutam pelas férias desse semestre, outros lutam
pelas aulas dos próximos 20 anos.
No entanto, se nem o DCE está pelos estudantes, estará o Congresso Nacional?
No entanto, se nem o DCE está pelos estudantes, estará o Congresso Nacional?